'IDENTIDADE E DIFERENÇA' : A PERSPECTIVA DOS ESTUDOS CULTURAIS (RESUMO)

by - agosto 19, 2021

 

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Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais

Por Paloma VIricio

Quando a identidade é firmada e a diferença é marcada, este processo implica sempre em incluir e excluir algo. Tudo passa a ser apoiado em pares: Bom X Mau, Racional X Irracional , Normal X Anormal.

Assim como no conceito empregado pelo livro O Caibalion, onde a Polaridade é uma das sete leis universais, segundo conhecimentos do antigo Egito, trazidos pelo grande sábio Hermes Trismegisto, que provavelmente viveu entre 1.500 a.C a 2.500 a.C. Isso quer dizer que tudo no universo é dual. Vivemos entre dualidades através da mente do Todo.

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Formalizar nossa identidade é afirmar “o que somos” e “o que não somos”. 


Traduzindo assim identidade e diferença em inclusos/ exclusos, Pertencentes/ Não pertencentes. Afirmar a identidade significa então, demarcar fronteiras, impor a relação de poder entre o outro e nós.

O processo de classificação é central na vida social. Ele pode ser entendido como um ato de significação, onde dividimos e ordenamos o mundo social em classes. Essas classes não são simplesmente agrupamentos simétricos. Dividir e classificar significa hierarquizar.

Fixando a Identidade                                                              

Tal como a linguagem, a tendência da identidade para a fixação é uma impossibilidade, pois a identidade está sempre escapando. No caso de identidades nacionais é comum o apelo a mitos fundadores. É o que podemos denominar de comunidades Imaginárias.

Na medida em que não existe nenhuma “comunidade natural”, em torno da qual se propõe reunir as pessoas que constituem um determinado agrupamento nacional, ela precisa ser inventada. São necessários laços imaginários que permitam ligar pessoas para que não se tornem indivíduos isolados sem nada em comum.

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A língua tem sido um elemento central nesse processo, juntamente com a construção de símbolos nacionais como hinos, bandeiras, brasões e etc. Os chamados mitos fundadores.


 Criando assim uma identidade nacional, liga afetiva, certa estabilidade e fixação.


A produção social da Identidade e da Diferença

T.T. Silva destaca que o multiculturalismo é, pois, o elemento fundamental para a construção de uma identidade cultural própria, já que este se conceitua como o apelo, respeito e tolerância ás diversidades culturais.

Este é primordial, pois sem o respeito a outras culturas não é possível a formação de tantas outras. É nessa perspectiva de diversidade que a diferença e a identidade tendem a ser cristalizadas.


Identidade e Diferença: Aquilo que é, aquilo que não é (Processo X Resultante do Processo)

Podemos definir identidade simplesmente por aquilo que se é: “Sou branco”, “sou mulher”... A identidade é assim concebida pelo o que parece ser uma positividade (aquilo que sou). Esta só tem como referência a si própria: é auto-contida e auto-suficiente. Entretanto, a identidade não se faz no indivíduo e sim no campo da diferenciação.

Identidade e Diferença: Aquilo que é, aquilo que não é


A diferença é então uma identidade independente. 

A diferença só se faz a partir daquilo que o outro é: “Ele é negro”, “Ele é homem”. Da mesma forma que a identidade, a diferença é concebida como auto-referenciado, que se remete a si própria. Mas é importante lembrar que identidade e diferença estão em uma relação de extrema dependência.

Quando afirmo, por exemplo, que “sou brasileiro” é porque existem outros indivíduos que não são brasileiros. Esse tipo de afirmação só faz sentido porque existem outros seres que não são o que sou.  Então, só sabemos e afirmamos uma identidade, pois vemos no outro aquilo que não somos. É a partir da diferença então, que a realidade é construída.

As afirmações de “não ser” tendem a negativar outras identidades, por isso, identidade e diferença tornam-se inseparáveis, fazendo com que uma dependa da outra.

Identidade e Diferença: Criaturas da Linguaguem

Identidade e Diferença não são elementos da ordem natural, mas sim resultado de atos de criação linguística ativamente produzidos. Podem ser criações sociais ou culturais. São criadas a partir de atos de linguagem, pois é através do ato de fala que instituímos identidade e diferença como tais.

De acordo com Sussure, os signos que constituem uma língua não tem qualquer valor absoluto, se considerados isoladamente. Ele só adquiri valor, através de uma cadeia infinita de outras marcas gráficas e fonéticas diferentes dele.

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Podemos afirmar, que a língua não passa de um sistema de diferenciação. A diferença é então, um processo de funcionamento da língua, de instituições culturais, sociais como a identidade. Mas identidade e diferença são tão indeterminadas, instáveis quanto à linguagem da qual dependem.

A identidade e a Diferença: O poder de definir

A Identidade, tal como a diferença, é uma relação social. Com isso, sua definição (Discursiva e Linguística) está sujeita a vetores de força e relações de poder, pois elas não são simplesmente definidas, mas sim impostas. Elas não convivem lado a lado, são disputadas.

A afirmação da Identidade e a enunciação da Diferença, traduzem desejos de diferentes grupos que almejam garantir acesso privilegiado aos bens sociais. O poder de definir a identidade e firmar a diferença não pode ser separado das relações mais amplas de poder. Onde existe diferenciação, está presente o poder. Este é o processo central pelo qual a identidade e a diferença são produzidas.


Todos os essencialismos culturais nascem do movimento de fixação que caracteriza o processo de produção da Identidade e da Diferença.


Subvertendo e Complicando a Identidade

O Hibridismo tem sido relacionado com o processo de formação das identidades nacionais, racionais e étnicas. Baseado na Teoria Cultural Coetânea, o hibridismo mistura diferentes nacionalidades, entre diferentes étnicas e raças. Isso coloca em cheque processos que tendem a conceber identidades separadas.

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As identidades que se formam através do hibridismo, não são mais integralmente originais, embora guarde traços delas.

Identidade e Diferença: elas têm que ser representadas

Para a teoria cultural contemporânea, a Identidade e a Diferença estão estreitamente associadas a sistemas de representação.

A Identidade e a Diferença são estreitamente dependentes da representação, pois é por meio desta que a identidade e diferença adquirem sentido. Elas se ligam a sistemas de poder.


Quem tem o poder de representar, pode definir e determinar a identidade.


Performatividade da Identidade e Diferença

O conceito de Performatividade desloca a ênfase na identidade como descrição, como aquilo que é. Essa é uma ênfase que é de certa forma mantida pelo conceito de representação para tornar-se uma concepção da identidade como movimento e transformação.

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Referência Bibliográfica:

Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais, Petrópolis, vozes, 2000. Conceito de identidade e diferença [Kathryn WoodwardTomaz Tadeu da SilvaStuart Hall ]


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O Resumo Identidade e Diferença: A Perspectiva dos Estudos Culturais de Paloma Viricio foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Brasil.

Obs.: Todos os textos produzidos neste blog são da minha autoria e estão registrados. Se utilizá-los, por favor lembre-se dos créditos.

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4 comments

  1. Olá, tudo bem? Esse texto lembrou os meus trabalhos da Faculdade. Rsrs... Bjs, Fabio www.blogfabiotv.blogspot.com.br

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  2. Achei muito bom o ensaio, Paloma; acho que o podemos classificar assim. O paradoxal, ao meu ver, é que são justamente as diferenças que nos conferem a identidade! Não sei se me fiz entender, mas gostei muito do post! Meu abraço, amiga; boa semana.

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    1. Sim! É exatamente isso, amigo. Identidade e diferença caminham juntas.
      Beijos

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