O poder do Feminino sufocado

Desde que eu soube da existência desse livro fiquei enlouquecida para ler. Mas, nunca poderia imaginar que Malala se tornaria um pessoa tão Jani (querida) depois de folhear algumas centenas de páginas. 

Ainda mais porque esse livro não fala apenas sobre uma menina que defendeu o direito pelo acesso a educação e foi baleada. Ele nos mostra a importância de ampliar o poder do Sagrado Feminino na sociedade.

Acredito que quando esse livro foi lançado, todos queriam saber sobre a história da mulher que milagrosamente sobreviveu após sofrer um atentado, que desejava não apenas calar a voz de uma menina que lutava por um mundo mais justo e pelo acesso à educação (dela e de outras crianças), mas também a voz de todas nós mulheres que de alguma forma sofre com a construção de uma sociedade que sufoca a essência feminina de muitas formas.

"A bala atirada por um homem me atingiu, fez meu cérebro inchar, roubou a minha audição e cortou o nervo do lado esquerdo de meu rosto em menos de um segundo. E depois desse segundo milhões de pessoas rezavam por mim, por minha vida, e médicos talentosos me deram meu próprio corpo de volta. Eu era uma boa menina. Meu coração tinha apenas o desejo de ajudar as pessoas. Não fiz nada com o objetivo de receber prêmios ou dinheiro. Sempre rezei a Deus: 'Quero ajudar as pessoas. Por favor, me ajude a fazer isso'. "

Mas além de lutar pelo poder de uma sociedade que faz as mulheres adoecerem por codificar o feminino como perigoso, frágil ou sei lá mais o quê, Malala buscava espalhar somente o bem pelo pequeno vilarejo que morava e quase perdeu a sua vida por isso.

"Algumas pessoas têm medo de fantasmas, e outras, de aranhas - naquela época tínhamos medo de outras pessoas."

Ser Humano: o domínio de uma raça sobre ela mesmo

Então, essa obra é muito mais do que você pode imaginar. Vai além da luta pelo direito da educação e igualdade de gênero. Ela fala sobre como há tanta luta em um mundo que ainda valoriza o poder, a ganância e a opressão de uma raça sobre ela mesmo, sobre os recursos naturais do planeta e seus seres mais inofensivos.

Entende que quando falo aqui sobre expansão da consciência, não é porque simplesmente acredito na espiritualidade, em seres multidimensionais e questões sobre metafísica? É também para minimamente tentar melhor o mundo. É sobre resgatar raízes ancestrais ocas e as fortalecer. É sobre curar as feridas dos nossos antepassados e finalizar ciclos de dor que ainda continuam reverberando contra a unificação dos gêneros.

"Nós, seres humanos, não percebemos como Deus é grande. Ele nos deu um cérebro extraordinário eu um coração amoroso e sensível. Abençoou-nos com a capacidade de falar e expressar nossos sentimentos, dois olhos para ver um mundo de cores e beleza, dois pés que caminham pela estrada da vida, duas mãos que trabalham para nós, um nariz que aspira fragrâncias deliciosas e dois ouvidos para escutar palavras de amor. Como descobri quando não conseguia ouvir direito, ninguém sabe quanto vale cada órgão até perder um deles."

Malala estar viva e poder continuar sua obra nos mosta algo maior. Não foi questão de sorte. Essa foi uma das infinitas provas das mãos de Deus em ação. Apesar do ser humano ainda agir movido pela arrogância e ignorância, nós vemos dia após dia que ainda é possível acreditar em uma mudança de ordem global.

"(...) milhões de crianças e adultos do mundo todo me apoiaram e rezaram por mim. Então percebi que as pessoas salvaram minha vida. Eu tinha sido poupada por alguma razão."

Por que, sim a causa da Malala era a educação, mas nós espiritualistas também sofremos uma guerra oculta por apenas desejar fazer o bem.

Parece que os valores humanos se inverteram em tamanha atrofia psíquica que o bem se tornou vergonhoso, utópico, como o sonho de um paraíso distante que nunca vamos alcançar ou que temos medo de levantar a bandeira por medo de como as pessoas irão nos ver, porque em um planeta em ruínas morais como o nosso, isso realmente pode parecer coisa de louco.

A complexidade feminina é divina

Durante o passar das páginas eu pude sentir a dor desta mulher na minha própria pele, mas também pude sentir a sua esperança, sua complexidade divina e sua simplicidade.

Porque, sim, ao mesmo tempo que ela descrevia questões sociais tão complexas do cenário em que estava inserida, ela ainda mostrava doçura em viver sua religião, cultura e nos pequenos detalhes da vida.

"Eu me pergunto o que aconteceu com o caroço de manga que plantei no nosso jardim no Ramadã. Imagino se alguém o está regando, para que um dia as futuras gerações possam apreciar a fruta."

Em 2021, eu pude fazer um curso da PUC sobre Liderança, Capacidade de Aprender e Resiliência em quem um dos professores era a Malala. Ainda não tinha lido o livro, mas eu me apaixonei instantaneamente pelas palavras dela e pelo amor a educação e a partir disso eu desejei conhecer a história mais a fundo.

Isso fez eu me sentir grata a Deus por diversos motivos quando terminei o livro. Se ela não tivesse sobrevivido eu não teria assistido esse curso enriquecedor que aumentou a minha autoestima com estrelinhas douradas incontáveis.

Mas, também não teria conhecido uma nova visão de  mundo totalmente diferente da minha e refletido sobre a própria consciência humana. Eu não teria entendido ainda mais a minha paixão pela educação, assim como ela.

"Educação é educação. Deveríamos aprender tudo e então escolher qual caminho seguir. Educação não é oriental nem ocidental, é humana."

O mestre distribui pequenas sementes, sem esperar colher o fruto da árvore que irá crescer.

Também já fui professora, enfrentei dificuldades diversas, mas sempre entreguei o meu melhor. Não por ego, mas por compaixão e por acreditar que o conhecimento é um combustível importante para a criação do novo ser humano na Terra.

A força que vi em Malala, também era a minha quando era criticada pelas minhas colegas de trabalho que falavam: "Eu não entendo porque você faz material extras para eles, é mais esforço e gasto do seu tempo por nada. Você não está recebendo por isso".

Eu simplesmente respondia que era porque eu gostava, mas ali no interior do meu coração eu queria entregar o meu melhor sempre... mesmo sem receber financeiramente por isso.

Era a semente que eu plantava na mente dos meus alunos e no coração deles. Não era apenas trabalho.

Cada sorriso e carinho sincero de um aluno também me pagava através de uma remuneração social que ia além do que eu poderia quantificar. Em pensar que muitos lugares é ainda pior, só fez meu coração entender que hoje eu faria tudo de novo.

"No mundo existem 57 milhões de crianças fora da escola primária. Delas, 32 milhões são meninas. É triste, mas meu país, o Paquistão, ocupa um dos piores lugares: 5,1 milhões de crianças não vão sequer à escola primária, mesmo que na nossa Constituição esteja escrito que toda criança tem esse direito. Há quase 50 milhões de adultos analfabetos, dois terços mulheres- como a minha própria mãe."

O Divino está em cada átomo do planeta

Esse livro confirmou aquilo que levo na minha mente desde que comecei meus estudos metafísicos, Deus está em tudo e todas as coisas. Não a imagem de um senhor barbudo juiz, mas de uma força superior amorosa, criativa e doce.

Ele está na luz e na sombra!

Mas, acima de tudo se Deus não tivesse agido para salvar a vida dela, nós teríamos presenciado a vitória dos inferiores. O que seria muito triste e até mesmo desmotivador.

Mas, sempre é possível ter esperança. Acreditem na força maior do amor, independente de religião, cor, status social. Acreditem e divulguem o bem.

Se mantenham unidos sempre para uma causa maior. Acredito que esse é o principal caminho para um planeta regenerado e feliz.

Eu sou Malala e você?

Ela é Malala, a mulher que acolheu a causa feminina e da educação como uma luta pessoal, mas também coletiva.

Eu fui Malala quando entreguei o melhor para os meus alunos sem esperar recompensar passageiras.

Eu sou Malala toda vez que alimento um animal, rego uma planta, agradeço pela luz do sol ou ajudo uma mulher com a autoestima ferida.

E você? Onde está sendo Malala?

"(...) o Talibã nos via como pequenos bonecos a ser controlados, aos quais dizia-se o que fazer e como vestir-se. Pensei que se Deus quisesse que fôssemos assim, não nos teria feito diferentes uns dos outros."

 

Frases da Malala para se inspirar

"No dia em que nasci, as pessoas da nossa aldeia tiveram pena da minha mãe, e ninguém deu os parabéns a meu pai. Vim ao mundo durante a madrugada, quando a última estrela se apaga. (...) Nasci menina num lugar onde rifles são disparados em comemoração a um filho, ao passo que as filhas são escondidas atrás de cortinas, sendo seu papel na vida apenas fazer comida e procriar."

"Um homem sai para trabalhar, recebe salário, volta para casa, come, dorme -é isso que ele faz. Nossos homens pensam que ganhar dinheiro e dar ordens é ter poder. Não percebem que o poder está nas mãos da mulher,que passa o dia cuidando de todos e que dá à luz."

 "Gostávamos que nos considerassem garotas inteligentes. Quando enfeitávamos nossas mãos com hena para os dias santos e os casamentos, desenhávamos cálculos e formulas químicas em vez de flores e borboletas."

"O Talibã podia tomar nossas canetas e nossos livros, mas não podia impedir nossas mentes de pensar."

"Eu não conseguia entender o que o Talibã  tentava fazer. 'Eles estão caluniando nossa religião', falei em entrevistas. 'Como você vai aceitar o Islã se eu apontar uma arma para sua cabeça e afirmar que o Islã é a verdadeira religião? Se eles querem que todas as pessoas do mundo sejam muçulmanas, por que primeiro não se mostram bons muçulmanos?"

"Comecei a entender que a caneta e as palavras podem ser muito mais poderosas do que metralhadoras, tanques ou helicópteros. Estávamos aprendendo a lutar. E a perceber como somos poderosos quando nos manifestamos."

" No Paquistão, quando as mulheres dizem que querem independência, as pessoas acham que isso significa que não desejam obedecer a seus pais, irmãos ou maridos. Mas não é isso.  Significa que queremos tomar decisões por conta própria. Queremos ser livres para ir à escola ou para ir trabalhar. Não há nenhum trecho no Corão que obrigue a mulher a depender do homem. Nenhuma mensagem dos céus estabeleceu que toda mulher deve ouvir um homem."