Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais
Por Paloma VIricio
Quando
a identidade é firmada e a diferença é marcada, este processo implica sempre em
incluir e excluir algo. Tudo passa a ser apoiado em pares: Bom X Mau, Racional
X Irracional , Normal X Anormal.
Assim
como no conceito empregado pelo livro O Caibalion, onde a Polaridade é uma das
sete leis universais, segundo conhecimentos do antigo Egito, trazidos pelo
grande sábio Hermes Trismegisto, que provavelmente viveu entre 1.500 a.C a 2.500 a.C. Isso
quer dizer que tudo no universo é dual. Vivemos entre dualidades através da
mente do Todo.
Formalizar nossa identidade é afirmar “o que somos” e “o que não somos”.
Traduzindo assim
identidade e diferença em inclusos/ exclusos, Pertencentes/ Não pertencentes.
Afirmar a identidade significa então, demarcar fronteiras, impor a relação de
poder entre o outro e nós.
O
processo de classificação é central na vida social. Ele pode ser entendido como
um ato de significação, onde dividimos e ordenamos o mundo social em classes.
Essas classes não são simplesmente agrupamentos simétricos. Dividir e
classificar significa hierarquizar.
Fixando a Identidade
Tal
como a linguagem, a tendência da identidade para a fixação é uma
impossibilidade, pois a identidade está sempre escapando. No caso de
identidades nacionais é comum o apelo a mitos fundadores. É o que podemos
denominar de comunidades Imaginárias.
Na
medida em que não existe nenhuma “comunidade natural”, em torno da qual se
propõe reunir as pessoas que constituem um determinado agrupamento nacional,
ela precisa ser inventada. São necessários laços imaginários que permitam ligar
pessoas para que não se tornem indivíduos isolados sem nada em comum.
A língua tem sido um elemento central nesse processo, juntamente com a construção de símbolos nacionais como hinos, bandeiras, brasões e etc. Os chamados mitos fundadores.
Criando assim uma identidade nacional, liga afetiva, certa
estabilidade e fixação.
A produção social da Identidade e da Diferença
T.T.
Silva destaca que o multiculturalismo é, pois, o elemento fundamental para a
construção de uma identidade cultural própria, já que este se conceitua como o
apelo, respeito e tolerância ás diversidades culturais.
Este
é primordial, pois sem o respeito a outras culturas não é possível a formação
de tantas outras. É nessa perspectiva de diversidade que a diferença e a
identidade tendem a ser cristalizadas.
Identidade e Diferença: Aquilo que é, aquilo que não é (Processo X Resultante do Processo)
Podemos
definir identidade simplesmente por aquilo que se é: “Sou branco”, “sou
mulher”... A identidade é assim concebida pelo o que parece ser uma
positividade (aquilo que sou). Esta só tem como referência a si própria: é auto-contida
e auto-suficiente. Entretanto, a identidade não se faz no indivíduo e sim no
campo da diferenciação.
A diferença só se faz a partir
daquilo que o outro é: “Ele é negro”, “Ele é homem”. Da mesma forma que a
identidade, a diferença é concebida como auto-referenciado, que se remete a si
própria. Mas é importante lembrar que identidade e diferença estão em uma
relação de extrema dependência.
Quando
afirmo, por exemplo, que “sou brasileiro” é porque existem outros indivíduos
que não são brasileiros. Esse tipo de afirmação só faz sentido porque existem
outros seres que não são o que sou.
Então, só sabemos e afirmamos uma identidade, pois vemos no outro aquilo
que não somos. É a partir da diferença então, que a realidade é construída.
As
afirmações de “não ser” tendem a negativar outras identidades, por isso,
identidade e diferença tornam-se inseparáveis, fazendo com que uma dependa da
outra.
Identidade e Diferença: Criaturas da Linguaguem
Identidade
e Diferença não são elementos da ordem natural, mas sim resultado de atos de
criação linguística ativamente produzidos. Podem ser criações sociais ou
culturais. São criadas a partir de atos de linguagem, pois é através do ato de
fala que instituímos identidade e diferença como tais.
De
acordo com Sussure, os signos que constituem uma língua não tem qualquer valor
absoluto, se considerados isoladamente. Ele só adquiri valor, através de uma
cadeia infinita de outras marcas gráficas e fonéticas diferentes dele.
Podemos
afirmar, que a língua não passa de um sistema de diferenciação. A diferença é então, um processo de funcionamento da língua, de instituições culturais,
sociais como a identidade. Mas identidade e diferença são tão indeterminadas,
instáveis quanto à linguagem da qual dependem.
A identidade e a Diferença: O poder de definir
A
Identidade, tal como a diferença, é uma relação social. Com isso, sua definição
(Discursiva e Linguística) está sujeita a vetores de força e relações de poder,
pois elas não são simplesmente definidas, mas sim impostas. Elas não convivem
lado a lado, são disputadas.
A
afirmação da Identidade e a enunciação da Diferença, traduzem desejos de diferentes
grupos que almejam garantir acesso privilegiado aos bens sociais. O poder de
definir a identidade e firmar a diferença não pode ser separado das relações
mais amplas de poder. Onde existe diferenciação, está presente o poder. Este é
o processo central pelo qual a identidade e a diferença são produzidas.
Todos
os essencialismos culturais nascem do movimento de fixação que caracteriza o
processo de produção da Identidade e da Diferença.
Subvertendo e Complicando a Identidade
O
Hibridismo tem sido relacionado com o processo de formação das identidades
nacionais, racionais e étnicas. Baseado na Teoria Cultural Coetânea, o hibridismo
mistura diferentes nacionalidades, entre diferentes étnicas e raças. Isso coloca
em cheque processos que tendem a conceber identidades separadas.
Identidade e Diferença: elas têm que ser representadas
Para
a teoria cultural contemporânea, a Identidade e a Diferença estão estreitamente
associadas a sistemas de representação.
A
Identidade e a Diferença são estreitamente dependentes da representação, pois é
por meio desta que a identidade e diferença adquirem sentido. Elas se ligam a
sistemas de poder.
Quem
tem o poder de representar, pode definir e determinar a identidade.
Performatividade da Identidade e Diferença
O conceito
de Performatividade desloca a ênfase na identidade como descrição, como aquilo
que é. Essa é uma ênfase que é de certa forma mantida pelo conceito de
representação para tornar-se uma concepção da identidade como movimento e
transformação.
Referência
Bibliográfica:
Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais, Petrópolis, vozes, 2000. Conceito de identidade e diferença [Kathryn Woodward, Tomaz Tadeu da Silva, Stuart Hall ]